O METAL MELÓDICO JÁ ERA
Em entrevista EXCLUSIVA, André Matos, vocalista do Shaaman, fala do novo CD e diz o que acha do Massacration
· ANDRÉ CANANÉAEntrevistar o vocalista do Shaaman, André Matos, foi mais difícil que eu pensava. Tentei falar com ele, tête-à-tête, durante o Abril Pro Rock, no Recife. Não deu. Depois, por telefone, em São Paulo. Até ligar para a casa do cara eu liguei. Nada. E isso tudo com a ajuda da assessoria de imprensa da banda. Finalmente, depois de duas semanas, consegui achá-lo em um hotel no Maranhão. No último dia 6, o Shaaman fez show em São Luís. No dia seguinte, se apresentou em Teresina (PI) e depois em Belém (PA).
Claro, foi tudo uma série de infelizes coincidências. André Matos pareceu contente com ligação que eu fiz e estava animado para falar para o JORNAL DA PARAÍBA. "A gente sabe que tem uma porção enorme de fãs aí da Paraíba. Mas a Paraíba foi um dos poucos Estados do Brasil onde o Shaaman ainda não tocou. Se eu não me engano, a gente só não fez, até hoje, a Paraíba e o Mato Grosso. Vamos ver se nesta turnê a gente consegue fazer João Pessoa e Campina Grande", diz.
De São Luís, Matos falou sobre o disco novo, Reason (DeckDisc), que aponta a carreira do grupo de rock pesado para um novo rumo: o do metal gótico. No disco, André Matos abandona os vocais agudos e até investe numa cover de "More", hit do Sisters of Mercy, banda inglesa que fomentou sua carreira nos anos 1980.
A seguir, você confere os melhores momentos do descontraído papo que eu tive com Matos, que fala dos rumos da banda, o que acha do Massacration e os discos que levou na bagagem para o Maranhão. E, pasmem, tinha até The Smiths.
· A ENTREVISTA JORNAL DA PARAÍBA - Pela primeira vez, o Shaaman grava um disco no Brasil. De onde partiu essa idéia? ANDRÉ MATOS - Na verdade, o disco foi gravado metade aqui (São Paulo e Belo Horizonte) e metade fora (Alemanha). Desta vez, a gente tomou a seguinte decisão: não vamos parar a turnê para gravar um disco. Então a gente ficou fazendo shows e nos intervalos, poderia ir pro estúdio, trabalhar com calma, criar os arranjos, gravar, refazer o que fosse necessário, de forma que o disco só ficou pronto quando achamos que ele estava perfeito.
Novamente, o produtor do disco é o Sascha Paeth. Ele veio ao Brasil gravar com vocês? Sim, ele veio e passou dois meses com a gente. O Brasil tem estúdios muito bons, mas que são usados para gravar MPB, samba... gêneros musicais pop brasileiros. Então não tem muito know-how de música pesada. Mas se você traz o produtor, não tem nenhum segredo: ele acaba encontrando aqui o mesmo tipo de equipamento que ele teria lá fora.
Por que seguir um caminho mais gótico, de vocais mais contidos neste novo álbum? Isso acabou vindo naturalmente, agora essa questão do vocais mais contidos... não é questão de serem contidos, acho que estão mais variados. Em vez de me concentrar numa coisa simplesmente técnica e virtuosística e ficar querendo somente cantar notas agudas o tempo todo, eu cheguei à conclusão de que isso é meio cansativo para quem escuta. E eu não queria ficar conhecido como o cara que só canta agudos. O que eu acho mais difícil nisso tudo é conseguir emocionar as pessoas de outras maneiras, através de outras interpretações da música, com um lance mais emotivo. Eu acho que todo mundo na banda está bem centrado nesse sentido.
Como assim? A gente está nessa de tocar para banda e não de dispor talentos individuais. É um time funcionando. E até essa coisa gótica, a gente acredita que o som do Shaaman é um som pesado, mas ao mesmo tempo atmosférico. E esse lado gótico da música lida bastante com essa atmosfera, então eu não vou negar que exista algum tipo de influência sim, mas não que o Shaaman esteja se transformando em uma banda gótica. A gente é meio camaleão mesmo.
Há alguma chance de vocês voltarem a fazer heavy-metal melódico? Eu acho que o heavy melódico ficou no passado. Nós passamos nove anos fazendo isso no Angra. Foi um período muito bom das nossas vidas, mas é uma coisa que tem que evoluir para algum lugar, senão corre o risco de se repetir e nunca sair disso. Em termos de criatividade, não há mais o que se fazer no heavy-metal melódico. Então, o que nos dá vontade de fazer é buscar outras linguagens dentro desse estilo de rock pesado. É uma obrigação do músico que toca esse tipo de música, tentar sempre inovar e tentar algo original.
Então o objetivo é fazer o Shaaman não soar como o Angra? A intenção primordial não é essa. O que acontece mesmo é uma evolução daquilo que a gente fez da época do Angra e que hoje tem outra cara, que hoje em dia já incorporou outras experiências. Até a própria banda pensa de um jeito diferente do que pensava antigamente. O tipo de música que a gente está fazendo hoje é uma coisa que estamos planejando há muito tempo. Se bobear, desde a época do Angra. E eu acho que a gente só conseguiu chegar ao resultado final agora, com o segundo disco de estúdio.
Por que gravar uma música do Sisters of Mercy? Por que não Bauhaus ou Cure, por exemplo? Por essa coisa do atmosférico que a gente estava conversando. Eu acho que todas essas bandas são interessantes, esse movimento que rolou nos anos 1980, essa coisa mais dark, mais escura. Todas elas trouxeram essa sonoridade mais carregada e ao mesmo tempo mais atmosférica que era muito interessante. (...) No caso do Sisters, em primeiro lugar foi uma sugestão do produtor (Sascha). Ele já tinha trabalho com o Sisters e disse: -Se vocês gravassem essa música, teria a ver com a atmosfera do disco. E quando a gente pega uma música de uma banda que não é exatamente o nosso estilo, isso abre muitas possibilidades, porque assim a gente pode colocar nossa própria personalidade nela, o que não aconteceria com um cover de um estilo parecido com o nosso.
O que você anda ouvindo no momento? Por exemplo, que CDs você levou para o Maranhão? Ah, eu posso até pegar aqui pra te dizer. Pera só um pouquinho... O Messias, de Handel, eu sempre viajo com música clássica. Tem também um disco solo de Freddie Mercury, na verdade um "best of". Ele, para mim, é o melhor vocalista de todos os tempos. Tem também um "best of" do Deep Purple e um do Sisters of Mercy...
Você tem ouvido mais o Sisters of Mercy depois que gravou a música deles? Comecei a me interessar bem mais e estou achando sensacional. Estou com o último do Paradise Lost (chamado de Paradise Lost, inédito no Brasil), que eu acho uma obra-prima. Comprei há uns 20 dias, na Europa. Também estou com o último do Rammstein (Reise, Reise). Eu acho o Rammstein uma das coisas mais originais que apareceram ultimamente. Eu também tenho aqui o último do Soulfly de Max Cavalera (Prophecy); Soilwork, que é uma banda sueca; aí tem um CD de new age, o Deep Forrest, bom pra relaxar depois do show; o disco Afterglow da cantora canadense Sarah McLachlan; um "best of" dos Smiths...
Dos Smiths de Morrissey e companhia??!!!! Sim. Eu acho Morrissey do caramba, principalmente esse último disco solo (You Are the Quarry). Tenho um CD do Orishas (A Lo Cubanos); um CD de música indiana do Helder Araújo (que fez participação no CD do Shaaman) e com o último do Peter Gabriel. Bem eclético, não?!
O que você acha do Massacration e desse sucesso todo que eles estão fazendo? - Eu sou amigo pessoal dos caras e eu acho que é uma brincadeira válida. O rock pesado tem muitos estereótipos que beiram o ridículo e que merecem ser satirizados, o que não é o nosso caso, porque a gente tenta fazer música séria e o público entende isso. Mas existe muita gente por aí que vive muito mais da pose do que da música. Tem muita banda que é mais piada do que o Massacration. Então eu acho que o Massacration se pega mais em cima disso e não é uma sátira, por exemplo, ao Shaaman. Agora, a popularidade do Massacration se deve ao fato de ser um fenômeno televisivo, ou seja, uma coisa que, sem trocadilhos, está sendo massacrada o tempo todo na TV, acaba chamando a atenção e o público se sente familiar por conta disso.
Fonte:
Jornal da Paraíba